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Por que as profissões ligadas a Compliance estão em alta em 2020

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Ano novo é sempre um momento de novas perspectivas. Como escreveu o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão”.

E o ano de 2020 era esperado com muita expectativa, especialmente depois que 2019 terminou em um quadro de alívio das tensões acumuladas, segurando negociações.

Pois bem, com a movimentação dos últimos meses do ano, em que pesou os tensos acontecimentos globais do início de 2020, a perspectiva para algumas atuações profissionais é muito positiva. Especialmente para aquelas ligadas, de uma forma ou de outra, a compliance.

A previsão é baseada em análises técnicas de quem conhece o mercado. Fomos ouvir o headhunter especializado na área de Relações Institucionais e Governamentais (RIG), Raul Cury Neto, sócio da Vittore Partners. Confira a entrevista e saiba por que as profissões ligadas a compliance estão em alta em 2020.

A área de RIG foi regulamentada como profissão. De certa forma, a atuação desse profissional está ligada a compliance, já que tem que garantir a conformidade da empresa a algumas leis?

Bem, é importante fazer uma separação das atuações. Há profissionais que podem fazer os dois – relações Institucional e Governamentais; ou só um ou outro.

Em Relações Institucionais, a atuação do profissional é ligada à imagem da empresa, ao institucional mesmo, é um olhar para fora. Estar atento ao reputacional, à relação com jornalistas, colocar os principais stakeholders da empresa como porta-vozes para o mercado, para a sociedade de forma geral e para o governo, fazendo a gestão de crises quando necessário. Então, é preciso cuidar da reputação da marca de forma institucional.

Quando se fala em Relações Governamentais, é stricto sensu mesmo, ou seja, é aquele profissional que exerce a atividade de RelGov (Relações Institucionais e Governamentais), seja representando a empresa da qual é um funcionário, o head de RelGov, ou seja via consultoria ou associação. O profissional que atua nessa área será o interlocutor entre os interesses da empresa e do governo, tanto Poder Legislativo, quanto Poder Executivo, seja no relacionamento com os sindicatos, associações de classes ou órgãos reguladores. Então há uma separação de atuação, de escopo.

Existem empresas que tem sob seu escopo, tanto relações institucionais, quanto governamentais. E muitos diretores de assuntos corporativos, ou vice-presidentes de assuntos corporativos, têm embaixo dessa estrutura alguns chapéus: em geral, a comunicação interna, externa, gestão de crise, relação com a comunidade e responsabilidade social. E tudo isso são relações institucionais.

Também está nesse escopo o relacionamento com as associações de classe que representam a categoria; em vez de a empresa pleitear algo no Governo por si só, chega a ele por meio das associações de classe e da relação com agentes públicos e reguladores, principalmente quando a empresa precisa fazer uma interlocução com um órgão regulador, seja do município, do estado ou do governo federal.

Já o Compliance é uma área separada de ReIGov, que chegou ao Brasil, exercendo maior impacto, depois de 2014, com a Lei anticorrupção e o início da Operação Lava-Jato. Compliance é estar em conformidade com a lei, com a legislação, com os processos e com os procedimentos.

Compliance é hoje uma área importante no mundo inteiro?

Sim. Principalmente nos EUA e na Europa é uma área muito rígida, e tem sido muito implementada nas empresas. Aqui no Brasil temos muito investimento e empresas estrangeiras, e sem o compliance não haverá mais negócio no mercado. Ainda que seja um mero distribuidor de uma empresa, é necessário haver uma política de compliance dirigida para aquela área de atuação para fazer negócios.

A chegada de compliance com mais intensidade ao Brasil mudou a forma de atuação profissional nas áreas de RIG?

Sim, com a necessidade de se implementar compliance nas empresas, que é uma área à parte da área de RelGov, o perfil do profissional mudou completamente. Antigamente, a RelGov era conhecida como a “área do jeitinho”, era muito relacionamento interpessoal e trocas de favores. E, muitas vezes, feito sem o uso do compliance. No entanto, depois que chegou ao Brasil, a área de RelGov começou a virar a chave.

Assim, garante a importância de cada área, uma vez que o governo interfere 100% no funcionamento e estrutura de uma empresa, seja ela menos ou mais regulada; e a atividade de RelGov, por estar na vitrine, onde sempre existiu muita facilidade de corrupção, tem que ser exercida por profissionais com perfis diferenciados e adotando o compliance; além de adotar um perfil mais técnico e menos relacional. E, sobretudo, com muita transparência.

A tendência dessas áreas é de crescimento em 2020?

Sim, a tendência é de crescimento; com esse novo perfil profissional e nova mentalidade sobre a importância que RelGov e compliance têm no Brasil, tanto para as empresas, quanto para os negócios, a área vem se reciclando e se profissionalizando cada vez mais.

Além disso, temos o movimento de cascata, porque começa no setor privado, nas empresas, depois vai para as associações de classes e em seguida para as consultorias de RelGov; e esse é um primeiro passo.
Além disso, é uma área essencial no Brasil, porque as decisões do Governo refletem diretamente nas empresas, portanto, trata-se de uma área que sempre precisará de profissionais. Principalmente neste ano, com a perspectiva de uma melhora significativa na economia, muitas empresas vão investir mais. E não só as internacionais, como também as nacionais, e isso gera trabalho, fluxo e demanda para essas áreas.