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Governança corporativa no cenário pós-pandemia: o que muda?

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A pandemia do novo coronavírus surgiu de forma rápida e modificou nossa realidade em pouco tempo. De repente, estávamos de quarentena em casa, trabalhando remotamente. Muita coisa mudou também no ambiente corporativo e ainda estamos nos estágios iniciais de compreensão do impacto que a COVID-19 terá sobre o trabalho.

Isso porque a pandemia não acabou ainda. Mesmo com a vacina, teremos meses, senão anos, de idas e vindas com relação ao trabalho remoto e às quarentenas. No entanto, no começo de 2021, já é possível enxergar algumas implicações importantes para as práticas e padrões de governança corporativa.

O fato é que o novo coronavírus está reescrevendo algumas das regras do ambiente corporativo. Mas o que muda de fato no cenário após a primeira parte da pandemia que vivemos hoje? Vamos entender um pouco mais sobre o assunto neste artigo.

O novo cenário corporativo

As empresas do mundo todo estão enfrentando uma nova realidade de trabalho, bastante complexa, resultado da gigantesca expansão da COVID-19. O novo cenário é caracterizado por pressões e demandas de vários grupos de stakeholders, expectativas elevadas de envolvimento da sociedade, cidadania corporativa, alto índice de demissões e uma forte incerteza sobre o futuro.

Esses são alguns dos fatores que tornam mais complexa a tomada de decisões e desafiam o modelo de governança corporativa tradicional, mais centrado no acionista, formato que orientou os conselhos e lideranças empresariais nas últimas décadas.

Isso significa que a capacidade de um conselho deliberar de maneira completa e cuidadosa, mas eficiente, e chegar a uma conclusão ponderada em torno de questões-chave para a sociedade será um aspecto crítico de sua eficácia na era pós-COVID.

Um exemplo prático disso é a questão dos pagamentos de dividendos aos acionistas. Em um cenário normal, se aplicaria uma política de dividendos tradicional já trabalhada por cada empresa ou pelo setor em que ela atua. Mas com a incerteza da duração da crise, essa decisão se tornou muito mais complexa.

Foi preciso pesar uma série de fatores como, por exemplo, o forte significado de pagar acionistas em um momento em que os funcionários estavam sendo demitidos ou afastados. Além disso, ainda há o fator do que é prudente pagar em um momento tão incerto como este. O que as empresas podem fazer então?

Como os negócios e a sociedade se interconectam

A pandemia criou a necessidade de olharmos para a conexão entre negócios e sociedade, e ressaltou a ameaça representada pelos riscos decorrentes de problemas sociais em grande escala que os defensores do modelo de acionista tradicionalmente consideram fora do alcance de resolução dos negócios.

A pandemia mostrou que empresas não podem se desconectar das questões sociais atuais. Prova disso é que apenas um vírus gerou uma crise de saúde pública global que rapidamente evoluiu para uma crise financeira e econômica de proporções épicas.

O fato de precisarmos fazer quarentena gerou uma mudança drástica na dinâmica de mercado do Brasil e do mundo: algumas empresas viram suas demandas entrarem em colapso, outras enfrentaram um dilúvio de pedidos. Muitas tiveram que inventar novas formas de trabalhar em questão de dias. Os preços das ações despencaram e depois subiram em um padrão de volatilidade sem precedentes.

Tudo isso por conta de fatores sociais. Problemas como desigualdade social, degradação ambiental, mudança climática, discriminação racial e étnica, declínio dos investimentos em saúde pública e educação, aumento da corrupção, deterioração das instituições públicas e, sim, aumento do risco de pandemias, se mostraram temas importantes a serem trabalhados – de formas inovadoras – pelas empresas.

Todos os stakeholders agora têm interesse em saber se o planejamento estratégico e a alocação de recursos da empresa consideram esses problemas e pensam em maneiras de não ampliá-los por meio de suas atividades econômicas. Tudo isso é parte essencial da nova forma de enxergar e trabalhar a governança corporativa nas empresas.

O fato é que a COVID-19 foi um poderoso ponto de inflexão para a governança corporativa. Não há dúvida de que a pandemia desafiou as premissas centrais do modelo de governança baseado em acionistas e agora as empresas precisam encontrar maneiras de lidar com as novas demandas da sociedade e dos investidores, a fim de continuar um trabalho pautado na sustentabilidade social, econômica e ambiental.